terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mudança para não mudar

Essa é uma carta aberta para todos os meus eleitores (e não eleitores), na qual pretendo explicar meus motivos para trocar de partido.

Estou na política há 15 anos, há mais tempo ainda na vida pública - já que antes disso fui da diretoria do Hospital Miguel Couto por 14 anos - e sempre procurei manter uma conduta coerente.

Para encurtar a história, vou me ater aos últimos acontecimentos. Desde que voltei ao PPS (após sair do PT, devido aos escândalos que envolveram sua cúpula) participei de três eleições. Em todas elas nos apresentamos ao eleitorado como um partido decente, com um programa político e sempre fazendo oposição ao PMDB da dupla Sérgio Cabral/Eduardo Paes.

Foram campanhas difíceis e desgastantes. Enfrentando todo o poderio da máquina do governo, fomos derrotados nas três eleições majoritárias e eu só consegui ser eleito uma única vez, em 2008, para vereador. Em 2006 e 2010, não consegui os votos necessários para deputado federal e estadual, respectivamente. Mesmo assim, com todas as dificuldades, sempre estive satisfeito no partido.

Infelizmente, em 2011, tudo começou a mudar...

Curiosamente, essa mudança se deu ao mesmo tempo em que a carruagem do PMDB começava a virar abóbora. Nem bem tínhamos passado das últimas eleições e começaram a surgir boatos sobre a aproximação entre o PPS e os governos municipal/estadual.

A ligação do Governador Cabral com mega empresários escancaradas na mídia; a falta de dialogo com os bombeiros; a greve do ensino Estadual. No município temos os bueiros explosivos; tragédia com o bondinho de Santa Teresa; a eterna superlotação das emergências em nossos hospitais. Até mesmo as elogiáveis UPPs começam a apresentar problemas.

O belíssimo castelo de cartas, montado com muita maquilagem, propaganda e pouco conteúdo, está desmoronando e, mesmo assim, o PPS resolveu pular no colo do governo...

O movimento foi demorado, estudado, calculado, mas desde muito cedo parecia inevitável. Primeiro, um deputado do PPS foi indicado para ser o líder do governo na ALERJ. É isso mesmo, pasmem, um parlamentar de um partido de oposição como líder do governo. Para a atitude ficar um pouco menos constrangedora, o parlamentar foi licenciado do partido antes de assumir a função. Em seguida, outro membro do partido também se licenciou para assumir uma secretaria municipal. Pronto, o noivado estava confirmado.

No penúltimo dia de Agosto o ato foi consumado e o diretório estadual do PPS anunciou que fazia parte da base aliada a Cabral...

Desde o principio, é importante deixar claro, demonstrei minha insatisfação quanto a essa adesão governista. No começo, com certa incredulidade; em seguida, com veemência e por fim, só me restou sair. Afinal, os incomodados que se mudem.

Há muito tempo – conforme ia aumentando a minha insatisfação – diversos jornais começaram a “me colocar” nos mais diversos partidos. Gostaria de deixar claro que sempre conversei com muitos políticos, é verdade, mas tentei lutar pelo PPS em que acreditava enquanto pude. Fui às reuniões do partido enquanto acreditei que conseguiria dissuadir meus colegas desse erro, mas perdi essa batalha.

Para não ser intransigente, até aceitei conversar com o PMDB para negociar meu apoio, mas, como já desconfiava, as premissas que estabeleci para tal (fim das terceirizações na saúde, seja por OS, Cooperativa ou qualquer mecanismo; desligamento entre a agencia de advocacia da mulher do governador e qualquer empresa de caráter público, como o Metrô; Plano de Cargos, Carreiras e Salários para os servidores; revisão do PEU das Vargens; acabar com a taxa de luz; aplicar as percentagens constitucionais em saúde e educação; entre outras) não foram aceitas pelo prefeito e sequer chegaram ao conhecimento do governador.

Como disse, sempre mantive contato com colegas que considero corretos, não importando o partido. Citando apenas vereadores, falo bastante com Andrea Gouvea Vieira, do PSDB; Sônia Rabelo, do PV; Reimont, do PT e com o agora companheiro Eliomar Coelho, do PSOL; entre outros e não vejo motivos para negar isso, pois sempre fui fiel ao meu partido. O partido é que foi infiel comigo.

Quem conhece minha vida e minha história sabe meus posicionamentos. Defendo o concurso público, a valorização do servidor, a ética e transparência nos setores públicos e, devido a minha formação, tenho posições bem firmes quanto à saúde pública.

Ao perceber minha situação insustentável no meu agora ex-partido, comecei a olhar em volta e, sinceramente, não gostei do que vi. Um verdadeiro trator governista passando por cima de tudo e de todos e pouco preocupado com a população. Do outro lado, uma oposição descaracterizada, fragmentada e, vejam só, pouco preocupada com a população.

Felizmente, uma opção interessante se abriu para mim. Em conversas com Eliomar Coelho, Marcelo Freixo e Chico Alencar e observando as atitudes desses parlamentares, vi ali o tipo de oposição que desejo praticar. Uma oposição propositiva, que não reclama por reclamar e apresenta suas idéias de solução para os problemas apontados.

É com isso em mente que pretendo dar continuidade ao meu mandato. Espero não estar traindo a confiança de nenhum de meus eleitores, mas estou com a consciência tranquila. Pelo contrário, me sentiria um traidor, caso apoiasse aqueles que tanto critiquei e contra quem já protocolei mais de uma dezena de representações junto ao Ministério Público.

Como diz o titulo, mudei, é verdade, mas mudei para não mudar!