No inicio do mês, o Deputado Marcelo Freixo embarcou para Europa para que o esquema de segurança dele e de sua família pudesse ser reavaliado e repensado. O convite para sair do país partiu da Anistia Internacional, após as sete ameaças de morte recebidas em Outubro. Passados quinze dias, ele retorna ao Rio de Janeiro com sua segurança reorganizada, mas tenho certeza que não volta satisfeito.
Essa insatisfação não vem por conta da postura feroz de parte da mídia que se apressou em acusá-lo de oportunismo eleitoral e outras milongas. Para os que não sabem do que falo, vejam a entrevista concedida por Tim Cahill, coordenador da Anistia Internacional no Brasil à Rádio BandNews. Mentiras com pernas curtas, plantadas em notinhas por puxa-sacos e interesseiros de plantão incomoda com as verdades que Freixo representa, não preocupam o parlamentar. Não, o motivo da insatisfação de Freixo é outro. Digo isso, sem medo de errar, pois sei que, para Freixo, reorganizar a sua própria segurança não é suficiente. O que ele realmente quer é dar segurança para todos que são ameaçados por milícias no Rio de Janeiro.
Tal comportamento é perfeitamente justificável, uma vez que vários desses milicianos fizeram campanha lado a lado com o atual prefeito que, em contrapartida, sempre adotou uma postura leniente com esse poder paralelo. Infelizmente, o executivo municipal e estadual só parecem se preocupar com essa questão quando ela ganha espaço na mídia.
Como explicar os critérios para que apenas uma pacificação tenha ocorrido em território miliciano, se o relatório da CPI das milícias mostra que o número de mortes é maior nessas comunidades? Respondo: as UPPs, infelizmente, são utilizadas como capital eleitoral e, sob essa lógica, não justifica ocupar uma região que já vota no governo. A única exceção foi o Jardim Batam, favela na Zona Oeste que ganhou as manchetes dos jornais cariocas quando jornalistas do Dia foram torturados no local, obrigando o executivo a “mostrar serviço” (para relembrar do caso, leia o relato do fotografo Nilton Claudino na revista Piauí).
Como explicar a atuação esquizofrênica do executivo na questão do transporte alternativo municipal? Simples: saiu uma matéria no Fantástico denunciando o que todos já sabiam. Novamente, o governo não teve saída, a não ser rever o projeto que havia encaminhado para a Câmara. Originalmente, o objetivo da Prefeitura era licitar linhas através de cooperativas, favorecendo assim as “associações” que já controlavam a atividade e, apesar da reclamação dos profissionais autônomos e de alguns vereadores, não havia dialogo. Porém, após denúncia global, o Prefeito mudou de opinião.
Percebendo que Freixo é um profundo conhecedor dos problemas da segurança municipal, as maquiagens de cunho eleitoral tornaram-se mais freqüentes, para tentar criar no eleitorado da zona sul, a imagem de um combatente das milícias. É claro que a internet nos permite desmascarar essa farsa com um simples “clique aqui”.
Nesse verdadeiro xadrez político, Eduardo Paes fechou três estacionamentos irregulares no Centro do Rio. Curiosamente, tal medida só foi adotada no final de seu terceiro ano de mandato, faltando menos de um ano para as próximas eleições e, mesmo assim, só após Freixo ter que deixar o país, mostrando inoperância do aparato estatal em conseguir manter presos milicianos (que fogem pela porta da frente de penitenciárias), reabrindo essa discussão que já estava esquecida. Diante desse contexto, o retorno de Freixo deve ser encarado como mais um marco para reavivar e cobrar das autoridades executivas constituídas uma concreta atuação contra as práticas desenvolvidas pelas milícias.
Ciente de que a boa oposição não reclama por reclamar, a CPI das milícias trazia propostas para combater as denuncias que fazia, mas quase nada de efetivo foi feito desde o detalhado relatório produzido no final de 2008. Termino esse texto listando algumas das recomendações que dizem respeito à prefeitura e foram solenemente ignoradas:
- Legalização do transporte alternativo municipal pela Prefeitura do Rio de Janeiro, e do intermunicipal pelo Estado, com a devida normatização, cadastro, controle e fiscalização, mediante permissões de caráter individual