segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ligações perigosas

O seminário sobre assistencialismo político com foco nas atividades dos centros sociais rendeu uma eficiente discussão para a sociedade. A antropóloga Karina Kushinir apresentou um levantamento revelando que a proposta dessas entidades é assumir um papel do poder público em serviços básicos como educação e saúde. O estudo assinala que 73 % dos centros sociais no Rio de Janeiro oferecem esse tipo de serviço. A estudiosa indagou se existe a possibilidade de a política e a filantropia caminharem juntas.

Munido com uma mala de viagem, o vereador Sebastião Ferraz retirou uma resma com guias de atendimento do centro social do qual mantém. Em tom orgulhoso, afirmou que suas seis ambulâncias trabalham 24 horas por dia. Apelou para a emoção e falou sobre o tratamento de crianças que sofrem de hidrocefalia (doença que faz a cabeça crescer). Por fim, convocou os presentes a conhecerem as instalações do centro social que carrega seu nome. De acordo com o vereador, todos os serviços são cobrados de forma simbólica.

Fiquei estarrecido com o que acabara de ouvir do “colega de trabalho”. Esclareci que não concordava com o papel de um político mantenedor de centro social. Essa dobradinha facilita a compra e troca de votos por conta de um eleitorado desinformado e carente. Não há como pacificar conflitos de interesses face às regras jurídicas e éticas. Esse vínculo é uma das causas que explicam a extinção do parlamentar com uma plataforma ideológica.

O procurador do Ministério Público do Trabalho João Batista Berthier classificou as ONGs como “Mercadoras de Trabalho Humano”. Já o jonalista Chico Otávio do jornal O Globo, que elaborou uma matéria sobre o assunto (Centros Sociais: máquinas de fabricar votos), comentou a conduta da grande imprensa sobre o assunto. Lembrou que os jornais ainda destinam pouco espaço para as eleições proporcionais e alertou para que a discussão não fique restrita à política.

A procuradora regional eleitoral Silvana Batini foi categórica ao afirmar que esses centros esvaziam o conceito de cidadania quando os donos acreditam que prestam um favor ao cidadão. Ela ratificou a posição de que Política e Filantropia não estão lado a lado. Como fui o último a ministrar a palestra, deixei para reflexão de promotores, juízes e operadores do direito, a necessidade de uma ampla discussão na sociedade sobre o perfil do parlamentar e governantes que se deseja.

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