quarta-feira, 21 de março de 2012

Indignação real X Indignação teatral

Nesse domingo o Fantástico exibiu uma excelente matéria denunciando desvios de verba pública. O repórter da Globo, Eduardo Faustini passou-se por um gestor de compras do Hospital Pediátrico da UFRJ e abriu licitações emergenciais para diversos serviços. A partir daí, o que pudemos ver foi uma sequência de flagrantes chocantes de corrupção.

Como não poderia deixar de ser, a sociedade ficou indignada com a desfaçatez de funcionários e empresários que combinavam com absoluta naturalidade o percentual de verba que seria desviado da Saúde Pública para o bolso de poucos (em média 15%). Com a denúncia do telejornal global, a revolta foi geral e a exigência para que as devidas providências fossem tomadas veio imediatamente. Tudo isso, fruto de uma reação muito sincera daqueles que sempre desconfiaram e ouviram falar em corrupção, mas nunca haviam visto ela sendo combinada de fato.

Os nossos governantes e os donos das empresas favorecidas também se disseram extremamente surpresos e prometeram fazer todo o possível para punir os responsáveis por tamanho absurdo. Entretanto, os exemplos de escândalos que já tivemos, nos fazem desconfiar essa “indignação” deve servir apenas para satisfazer a opinião pública até as coisas esfriarem.

As empresas afastaram os funcionários flagrados, como se eles negociassem esses valores sem o conhecimento de seus superiores, ou seja, "retiram o sofá da sala" e quem foi gravado “paga o pato”. Já o Prefeito e o Governador anunciaram a suspensão imediata dos contratos com as empresas que apareceram na matéria, atitude corretíssima, mas que não resolve os problemas. Primeiramente, repassar esses contratos para as empresas que ficaram em segundo lugar na licitação seria favorecer aqueles que participaram do esquema "entrando para perder". Além disso, muitos empresários conseguem continuar desviando recursos públicos com pequenos truques. A Ruffolo, por exemplo, não possui mais nenhum contrato direto com a prefeitura, mas presta serviços para a Organização Social IABAS, que por sua vez é sustentada com recursos da Saúde. Segundo o Tribunal de Contas do Município, a Ruffolo gastaria R$2,305 milhões a mais que a prefeitura, por ano, para executar os mesmos serviços (limpeza, vigilância e digitação).

Por fim, gostaria de lembrar a importância do Diretor da unidade, Dr. Edmilson Mikovski, que tornou a matéria possível. Exemplo de Servidor que resiste à corrupção, com certeza só teve a oportunidade de tomar tal atitude devido a sua estabilidade. Caso ele ocupasse o cargo por uma indicação política, ele estaria demitido hoje. Ele está ali eleito pelo voto direto dos funcionários da Universidade Federal do Rio de Janeiro e só deve satisfação àqueles que o elegeram, não estando submetido a indicações e/ou conchavos de qualquer espécie.

De minha parte, continuo na luta para mudar o atual rumo terceirizante da nossa Saúde. Não se trata de uma critica vazia de uma oposição implicante, é a constatação de um quadro que precisa ser modificado. E se a indignação dos governantes for real, o momento de agir é agora.

Um comentário:

  1. Ñ PODEMOS DEIXAR CAIR NO ESQUECIMENTO, É NOSSO SUADO $$$ QUE TA INDO P/ BOLSOS DESSES CORRUPTOS

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