domingo, 11 de julho de 2010

O reflexo das UPA's nos hospitais públicos

Hoje no twitter recebi um reply me questionando sobre a situação dos hospitais públicos. Muitos pedem minha avaliação do atual estado da saúde pública, principalmente sobre a leitura que faço sobre o aparecimento das UPA’s no Rio de Janeiro.

O excesso de marketing aplicado às UPA’s fez com que as pessoas tendessem a acreditar que os problemas da Saúde seriam resolvidos. Mas o tempo vem passando e o caos contunia instalado nos hospitais públicos. Daí a curiosidade das pessoas. Elas querem entender o porquê disso.

Não é de hoje que venho falando que não existe solução mágica. O segredo é trabalhar com seriedade, investindo no profissional e no vínculo dele com seu tomador de serviço, o estado. A UPA é uma ferramenta importante para avançarmos na melhora da rede pública, mas na realidade é utilizada como moeda para cacifar políticos. O interesse público perde para o interesse eleitoreiro.

Fato é que vem acontecendo um fenômeno interessante. Estando as UPA’s muito mais para moeda eleitoral do que para ferramenta de gestão de saúde pública, ela vem se revelando como a maior demandante de vagas em enfermarias e emergências. Então o que vem fazendo as UPA’s? Elas vem tirando da porta dos hospitais públicos as grandes filas, mas vem superlotando suas enfermarias, quartos, emergências e corredores.

Assim, apesar de dar uma nova cara às antes abarrotadas portas dos hospitais, elas empurraram o gargalo para o interior das unidades e o maior prejudicado continua sendo o cidadão.

No início desse ano fiz um levantamento sete em hospitais municipais, estaduais e federais que recebem, cada um, cerca de 30 ambulâncias dia. Reencaminhados das UPAs, pacientes graves chegam mais rápido aos hospitais e, diante da superlotação — e da precária infraestrutura – aumenta o risco de mortalidade.

Pacientes que deveriam estar no CTI ficam improvisados em enfermarias, ligados a respiradores e maquinas de hemodiálise. Numa dessas visitas, no Hospital Municipal Souza Aguiar, encontrei na enfermaria seis pacientes graves, de vítimas terminais de câncer a pessoas respirando com a ajuda de aparelhos. Já no Miguel Couto, eram oito pessoas. No Salgado Filho, pior ainda: no espaço para 50 macas havia cerca de... 130!

Do início do ano até hoje nada mudou. O que falta é gestão. O Investimento em UPA’s é necessário, mas deve ser acompanhado pelo devido investimentos em leitos de hospitais, sob pena destes continuarem superlotados como acontece hoje em dia.

2 comentários:

  1. Maravilhosa a matéria! Sou candidata, acadêmica de medicina, formada em microbiologia e posso dizer que entendo um pouco do caos da saúde publica. Ja questiono há algum tempo a questao do despreparo do pessoal envolvido no setor e da necessidade de maior capacitação voltada para o seu papel nesse contexto.
    Acredito que politica serve para isso! Avaliar e unir forças para a melhoria continua de alguns processos, independente de partido ou de interesses, mas voltado para a realidade visando o atendimento da necessidade real do usuário: o cidadão!
    Parabéns!!
    Sempre acompanho o seu trabalho pois pude conhecê-lo indiretamente, mas não pessoalmente, em uma palestra no sindicado dos médicos do RJ com o Deputado Federal Ronaldo de GO.
    Espero que consigamos mudar a realidade de nosso sistema de saúde,mesmo sabendo que será um trabalho arduo e que requer paciencia e muita perceverança.
    Karla Kétrim

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  2. Upa, upa... Só serve para facilitar a vida dos politicos. Gasta mais e custa muito mais!!

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